quinta-feira, 15 de maio de 2014

Estamparia Adinkra: um diálogo transdisciplinar entre África e Brasil

AUTOR: 

Flora Sipahi Pires Martins Figueiredo - Instituto de Artes da UNESP

RESUMO:

A presente comunicação refere-se a um projeto transdisciplinar que envolveu as áreas de História, Geografia e Artes Visuais e foi elaborado juntamente aos alunos do 4º ano do ensino Fundamental (9 a 10 anos) da Escola Viva, em São Paulo.
Nessa escola trabalhamos a partir de eixos temáticos que norteiam o currículo das diferentes áreas do conhecimento e que variam de acordo com a série escolar. No 4º ano, o eixo temático está diretamente relacionado às áreas de História e Geografia e às questões dos deslocamentos populacionais, trajetórias familiares e deslocamentos nas grandes cidades. Esse eixo temático é constituído a partir de perguntas norteadoras e pretende-se abordá-lo do ponto de vista transdisciplinar.
No segundo semestre, o estudo se volta para o continente africano, devido principalmente ao fato de um grande contingente populacional ter se deslocado da África para o Brasil, sobretudo no século XIX. Durante as pesquisas, cada grupo/sala pode eleger diferentes aspectos do continente para serem comentados, e, geralmente, alguns países são escolhidos para serem analisados com maior profundidade. Muitas das discussões e pesquisas realizadas nesse trabalho estão vinculadas aos estudos das manifestações artísticas e culturais dos povos africanos ou afro-brasileiros.
No atelier, no final do ano passado, aprofundamos nosso estudo artístico e antropológico sobre o continente africano ao nos voltarmos às produções do povo Axanti, do país de Gana. Nessa região homens e mulheres produzem carimbos e tintas para fabricar peças de estamparia vinculadas à simbologia Adinkra. Essa complexa simbologia foi desenvolvida pelo povo Axanti no século XVI e ainda sobrevive na região. Cada símbolo Adinkra está ligado a um provérbio ou significado e muitos se relacionam a animais, vegetais, corpos celestes e vida em sociedade.
Para estudarmos sobre esse essa manifestação artística, consultamos livros e assistimos a filmes na internet. Os alunos mostraram-se entusiasmados com a pesquisa e foram convocados pela professora Atelierista a elaborar seus próprios símbolos bem como criarem seus carimbos. Cada criança confeccionou dois carimbos com madeira e E.V.A. e em seguida, pôde experimentar as técnicas de impressão em suporte como papeis e tecidos. Inspirados pela observação dos motivos geométricos e de suas repetições presentes nos tecidos africanos, os alunos criaram, primeiro individualmente e depois, coletivamente padrões em estampas.
Ao longo do processo, surgiram variados tipos de formas e significados relacionados aos carimbos confeccionados, bem como diferentes combinações e padrões gráficos nas estampas produzidas. Estas estampas e as fotos que registram o processo de criação das mesmas foram expostas a toda comunidade escolar durante o evento da série. O processo de trabalho mostrou-se como uma interessante oportunidade de lançar olhares para outro contexto cultural e, a partir daí criar pesquisas artísticas, conectadas aos valores e à sabedoria da simbologia Adinkra.

REFERÊNCIAS:
  • Nascimento, Elisa L. (2009). Adinkra: sabedoria em símbolos africanos. Rio de Janeiro: Pallas. 
  • Sommerman, A., Mello, M. F., & Barros, V. M. (2002). Educação e Transdisciplinaridade. São Paulo: Triom. 
  • Fazenda, Ivani C. A. (1991). Interdisciplinaridade: um projeto em parceria. São Paulo: Loyola. 

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