quinta-feira, 15 de maio de 2014

Que formação estétIca para docência?

AUTOR:

Luciana Gruppelli Loponte - Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

RESUMO:

Compartilho nesse texto inquietações relacionadas às possibilidades e apostas em uma formação estética docente, além de uma formação específica, não apenas ligada apenas aos docentes vinculados às artes, mas extensiva a formação de qualquer professor. Em um primeiro momento, apresento análises iniciais sobre levantamento realizado em torno de pesquisas que aliam formação estética e docência no banco de teses da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal a Nível Superior) de 2006 a 2010, no âmbito de pesquisa financiada pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), procurando apreender a emergência de discussões e autores diante da indeterminação de que se trata uma formação aliada a uma dimensão estética. Na segunda parte do texto, procuro apresentar discussões oriundas da pesquisa “Arte contemporânea e formação estética para a docência”, procurando dar um contorno mais nítido a experimentações de formação nesse âmbito.
Percebe-se uma abertura maior para a temática de formação estética em entidades educacionais brasileiras importantes tais como a ANPEd (Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação), principalmente a partir da criação do GT Educação e Arte. As abordagens e matrizes teóricas utilizadas nestes estudos são variadas: psicologia, filosofia, arte, educação e autores como Foucault, Nietzsche, Deleuze, Vigótsky, Eisner, Ranciére, Adorno etc. Embora muitos desses trabalhos se aproximem e levantem questões semelhantes, distanciam-se em relação às abordagens teóricas e metodológicas. Quando se fala em formação estética do que mesmo está se falando? Que tipo de formação docente está se buscando a partir dessas discussões?
Por outro lado, tenho buscado demarcar o espaço para a dimensão estética no âmbito da formação docente, com ênfase cada vez maior em perspectivas contemporâneas de estética, em que as noções modernas de “beleza” e de apreciação estética não sejam tão centrais. Cabe assim ir adiante das questões que têm sido apontadas nas pesquisas mais recentes, buscando estratégias para a formação estética de docentes considerando a arte de nosso tempo, em especial, a arte contemporânea. Compreendemos aqui a arte contemporânea não apenas como mais um estilo ou “ismo”, mas como um modo de pensar que abrange e não exclui outras formas de arte, de épocas, lugares e culturas distintas. É preciso ressaltar também que não nos apropriamos dos principais conceitos artísticos contemporâneos visando à criação de metodologias de ensino ou abordagens pedagógicas em aulas de arte. Por outro lado, temos buscado pensar a partir das produções artísticas contemporâneas, criando a nossa própria “coleção de exemplos” (De Duve, 2009), para instigar a docência como campo expandido, mais aberta para a dúvida em relação a propostas pedagógicas cristalizadas, a invenção de práticas educativas contemporâneas ao tempo em que vivemos, às novas relações entre escola e produção de conhecimento, entre docentes e estudantes com os quais trabalhamos, considerando  afinidades inusitadas entre áreas de conhecimento, sem temer as tensões possíveis que podem existir entre arte e docência.

REFERÊNCIAS:
  • Bourriaud, N. (2009). Pós-produção: como a arte reprograma o mundo contemporâneo. São Paulo: Martins.
  • De Duve, T. (2009). Cinco reflexões sobre o julgamento estético, Revista Porto Arte, Porto Alegre, 16 (27), 43-65.
  • Dias, R. (2011). Nietzsche, vida como obra de arte. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
  • Helguera, P., Hoff, M. (orgs.). (2011). Pedagogia no campo expandido. Porto Alegre: Fundação Bienal do Mercosul.
  • Hermann, N. (2010).  Autocriação e horizonte comum: ensaios sobre educação ético-estética. Ijuí: Unijuí.
  • Hermann, N. (2005). Ética e estética: a relação quase esquecida. Porto Alegre: EDIPUCRS.
  • Loponte, L.G. (2013). Arte para a Docência: estética e criação na formação docente. Arquivos Analíticos de Políticas Educativas, Education Policy Analysis Archive, 21 (25), 1- 22.
  • Loponte, L.G. (2012). Desafios da arte contemporânea para a educação: práticas e políticas. Archivos Analíticos de Políticas Educativas / Education Policy Analysis Archives, 20, 1-19.

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